O sonho de viver a rotina de grandes nomes americanos dos Três Tambores

Atletas brasileiras da modalidade que tiveram essa oportunidade e viveram uma experiência incrível contam um pouco para nós

Os Estados Unidos é uma grande vitrine dos esportes equestre. Ir para lá e conhecer de perto todo o processo faz parte do desejo de muitas competidoras, competidores e profissionais desse universo. Uma grande referência em criação, competições e treinamento, além de novas tecnologias na parte de medicina veterinária e outros setores como acessórios para cavalos e cavaleiros.

Gabriela Cestari, Camila Rosário Ferreira, Giovanna Balbo, Natasha Marcondes tiveram a oportunidade de ficar nos Estados Unidos por algum tempo, convivendo de perto com o dia a dia de grandes nomes dos Três Tambores como Joyce Loomis, Latrícia Duke, Marta Josey, Kessie Mowry, Talmadge Green, entre outros.

Outras já estavam morando nos Estados Unidos e continuaram competindo como Priscila Aguiar Palermo, Patricia Marchi, Daniela Alcoléia, Keila Polizelo. E ainda podemos citar os profissionais aqui do Brasil que foram já para mostrar seu trabalho nos Estados Unidos: Marco Toledo Filho, André Coelho – que ficou uma longa temporada e voltou para o Brasil, mas por pouco tempo retornando recentemente ao Texas – e João Ferraz Leão.

Há também quem passou apenas uma temporada para se reciclar, Abelino Rodrigues Araujo Filho, Rodrigo de Oliveira Fernandes. Sem contar quem já foi classificado para competir em provas da NBHA, classificados através da NBHA-Brazil para correr o mundial: Matheus Machado Costa, Marcos Monzinho, Hugo Ribeiro, Jéssica Moraes, Octávio Faria, Lauri Gularte.

E ainda os classificados para The American: Paulo Cavalheiro Junior, Fernanda Cavalheiro, Viviane Gratão; WBRC Open Challenge: Fatiana Ferreira, Gabriela Fagundes, João Ayres. E tantos outros!

Competidoras

Gabriela Cestari, treinadora atualmente no B2B Ranch, ficou uma temporada nos Estados Unidos no ano de 2006. Ela tinha 19 anos na época e ficou hospedada na casa de Joyce Loomis-Kernek.

“Fiquei um ano na casa dela, foi um start para mim no cavalo de Tambor. Aprendi muita coisa com ela, trabalhava bastante. O manejo dela a gente que fazia, tratava dos cavalos, limpava baias, cuidava dos cavalos que tivesse alguma medicação para ser feita”, relembra.

Ela era responsável pelo trato dos animais e depois passar o resto do tempo montando com Joyce. A atleta teve a oportunidade de correr provas menores e uma prova maior em Oklahoma. Segundo ela, foi uma experiência incrível, que carrega consigo até hoje.

“Eu tive mais contato com os cavalos de horsemanship e consegui aprender um pouco mais disso lá. A Joyce é mais simples no treinamento e sempre dizia que o cavalo tem que gostar do que faz”.

Gabi Cestari

Como faz tempo que esteve morando nos Estados Unidos, Gabi acredita que muitas coisas mudaram por lá. “Porém, eu trabalho nisso até hoje, que seja simples e agradável para o animal. Então para mim, tem um fundamento enorme, porque se a gente está trabalhando feliz os resultados são melhores. E isso vale para os animais também”.

A maioria das competidoras nos Estados Unidos tem o contato direto com os cavalos, selar, lavar, aquecer, todo o processo, com todo cuidado. O que na época chamou muito a atenção de Gabriela foi a estrutura deles em relação às provas.

“As pistas, os equipamentos me chamaram atenção, mas hoje estamos tão bem quanto. Só que naquela época, me chamou a atenção a facilidade que eles tinham de acesso a isso. Além de ter de quarta a domingo provas em todo lugar, toda semana, jackpots, treinos abertos”, detalha Gabriela.

Camila viveu uma experiência única

Camila Rosário Ferreira ficou quase um ano nos Estados Unidos. A ida teve um motivo que não os cavalos: foi para visitar a tia que morava em Dallas. Mas após um mês lá queria montar. “Fui visitar o Bangal, que é de Rio Preto e morava perto da minha tia, e comentei que gostaria de ficar em um rancho. Ele conhecia a Kessie Mowry e me levou até lá. Eu não falava nada de inglês”, recorda.

O dia que chegou no rancho, Kessie pediu para Camila galopar um cavalo em volta da pista. “Na segunda volta ela pediu pra eu descer do cavalo. Eu não entendia nada e o Bangal traduziu para mim. Achei que tinha feito algo errado, mas ela disse que já conhecia como eu montava e estava satisfeita. E foi assim que começou minha rotina com ela. Começava tratando dos cavalos e depois ia montar”.

Eram 24 horas dedicadas aos cavalos e provas, tornando-se um período de grande aprendizado, mas também bem puxado para Camila. Pois eram somente ela e a Kessie para cuidar dos cavalos e montar. Tinham uma rotina de treino em que montavam das 9h às 14h, comiam geralmente um lanche de pão de forma, e voltavam a montar até as 18h. Isso quando o clima estava ameno. No verão, treinavam de madrugada das 5h às 9h e depois das 18h.

Camila em Oklahoma City para o Barrel Racing Futurity de 2010

“A estrutura era simples e funcional! Alguns cavalos trabalhávamos na pista, outros no pasto e outros no rodador, Íamos a jackpots toda quarta na arena de Stephenville levar os potros para sair de casa. E a rotina se formava conforme a necessidade dos cavalos. Se precisava treinar mais fora de casa íamos em vários jackpots para colocar ritmo”, conta.

Como sabiam que horas iam correr, trabalhavam até perto do horário em casa, depois embarcavam a tropa no trailer, corriam a prova e voltavam para casa. “Não tinha vida social como aqui no Brasil, pois perder tempo de ficar na prova com apenas alguns cavalos era perder treinamento dos outros que estavam em casa. Já que não tinha nenhum auxiliar que poderia ficar para manter a tropa”, detalha Camila.

Um dos grandes desafios foi aprender a falar inglês, algo que Camila acabou aprendendo sozinha. No começo se comunicava por geste e foi bem difícil. “Escrevi duas frases em um papel e coloquei no bolso: ‘qual cavalo eu devo pegar no piquete?’ e ‘montar ou rodador?’. E fui seguindo”. Camila competiu nos Estados Unidos em várias provas regionais, conheceu oito estados, porém a de maior importância foi a prova que correu em Perry, na Georgia.

“Fui a capitã do time do Brasil no Internacional do WTRC. Ficamos em segundo lugar, perdendo para os Estados Unidos. O time era formado por mim, Patricia Marchi, Giovanna Balbo, Gabriela Fagundes e João Ayres. Foi uma experiência incrível!”. E os cavalos? Camila montava um filho direto de Dash Ta Fame e os demais eram todos potros.

“Tive o privilégio de montar Epic Lider. Nesta época estávamos treinando-o, era potro ainda e treinei muitas vezes ele, sendo um cavalo fantástico!”. Ela ficou também uma semana com Britanny Pozzi e Marta Josey, e tinha a oportunidade de continuar, mas optou por voltar ao Brasil.

Giovanna Balbo e Tammy Billingsley, 4x campeã mundial e recordista mundial de shootouts

Os Estados Unidos são a segunda casa de Giovanna

Giovanna Balbo também esteve por um período morando nos Estados Unidos, na casa de Latricia Duke. Foi em novembro de 2007 e ficou por seis meses. A competidora fez grandes amizades por lá e sempre retorna para reciclar seus conhecimentos e rever amigos. Já tinha recebido um convite de Charmayne James, mas não tinha aceitado. E quando Latricia chamou, ela decidiu ir.

“Fiz um curso com a Latricia no Brasil e na época achei que estava melhor preparada, por isso aceitei. Cheguei bem na temporada de Potro do Futuro nos Estados Unidos. Essa minha experiência lá foi maravilhosa, porque eu consegui conhecer muita coisa, saber como era o treinamento. A forma como a Latricia trabalhava sempre foi parecida com a minha, então me aperfeiçoei mais, aprendi muitas técnicas”.

Em seis meses, Giovanna conseguiu aproveitar bem o tempo. E quando voltou para p Brasil, os resultados apareceram de forma imediata. Os criadores passaram a procurá-la para enviar seus cavalos para treinamento. O maior desafio na época para ela foi em relação à cultura americana. Segunda ela, eles são mais fechados e conviver diariamente foi muito diferente de ir passear. Teve que se ajustar.

“Com a Latricia a gente se conhecia do curso, mas não havia a intimidade. Então fui sentindo e ia me oferecendo para fazer os trabalhos, no que eu podia ajudar. Aqui todo mundo se conhece e se cumprimenta. Lá, em uma semana estávamos todos juntos, falavam comigo, na outra nem olhavam na cara. Eu pensava que era algo comigo, mas depois vi que não. Isso também foi um aprendizado para mim”.

O mais recompensador para Giovanna foi que ela conquistou a confiança da treinadora e Latricia deixava os cavalos para ela montar por acreditar no trabalho que ela estava fazendo. Já se passaram 12 anos dessa experiência e uma das coisas que ficaram foi uma grande amizade entre elas. Até hoje Giovanna faz uma visita quando viaja aos Estados Unidos.

“Fui vários anos seguidos 15 dias antes do Futurity de Oklahoma para ficar como ajudante dela. Quando fica sabendo que vou, ela já me liga, e nem contrata alguém para ajudar. E esse bastidor de selar os cavalos, deixar tudo arrumado, estar perto do partidor com ela, fez com que ficasse conhecida. Isso também é muito gratificante, a porta que ela me abriu”, ressalta Giovanna.

A brasileira teve ainda a oportunidade de passar alguns dias com Talmadge Green e Jolene Montgomery, em outras épocas que esteve nos Estados Unidos. Giovanna procura também sempre fazer os cursos com os americanos que vêm para o Brasil. O mais recente foi o do Brandon Cullins. “Faço os cursos não para mudar meu jeito de treinar, mas sim por conhecimento, para acrescentar algo mais que eu possa usar.”

Uma coisa é unânime para todas elas: não há preconceito no esporte e as mulheres trabalham e são tratadas por igual. São grandes amazonas, respeitadas e admiradas. Diferente do costume do Brasil, nos Estados Unidos é a própria competidora ou treinadora que limpa baia, trata dos cavalos, sela monta, dirige o trailer, e compete, ganhando bons prêmios. Por aqui, ainda há uma certa barreira. O aprendizado é grande, mas o trabalho é árduo. Para as que sonham em viver essa experiência, vale a pena, mas é preciso ter coragem! Para ver mais conteúdo como esse clique aqui.

Por Verônica Formigoni
Fotos: Arquivo Pessoal

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