Bicampeão mundial de Laço Individual, Caleb Smidt conta como foi viver momentos de euforia e tristeza na mesma época
A temporada 2018 foi uma das melhores, mas também uma das piores. Continuo seguindo em frente, dia após dia, não importa o que aconteça, sabendo que Deus tem um plano maior. Pensei muito em meu pai depois de ganhar o The American esse ano. Dentro da arena, tive lágrima nos olhos ao lembrar dele. Também pensei em meu cunhado, Will, e sua esposa, Bailee.
O The American tem um formato de competição que não é muito a minha praia. Gosto de laçar em sete ou oito segundos. Raramente marco tempo na casa dos seis, como muitos caras fazem. Quero dizer, Marty Yates já laçou mais bezerros em seis segundos do que eu vou conseguir fazer. Tenho uma forma minha de fazer as coisas e nunca tinha entrado no short go do The American, até este ano.
Quando me dirijo ao brete, normalmente não penso muito. Mas eu me lembro de estar lá para a decisão do The American e ‘pedir’ mentalmente uma ajudinha ao meu pai. Não é algo que costumo fazer, ter que laçar muito rápido, então se eu quisesse vencer, teria que fazê-lo. Papai, Will e Bailee, tenho certeza, estavam comigo naquele momento. Eu acho que é por isso que eu ganhei. Foi uma vitória emocional depois do ano que tive.
Um ano de ganhos e perdas
Meu pai, Randy Smidt, vinha lutando contra o câncer há alguns anos, fazendo quimioterapia. Sempre achei que ele iria superar. O câncer tinha sumido, mas voltou após um mês. Desapareceu novamente e quando voltou, meus pais decidiram não me contar até que a National Finals Rodeo de 2017 tivesse acabado. Papai foi ao Thomas & Mack todos os dias naquele ano. Tenho certeza que ele estava sofrendo, mas nunca deixava transparecer.
Logo após a NFR 2017, ele me contou que o câncer havia se espalhado por todo o corpo e cérebro. Os médicos deram-lhe seis meses de vida, mas ele piorou rápido. Nós estávamos com ele todos os dias. Não sei se você já passou por algo parecido, mas é uma das piores coisas que existe. Ver a pessoa que a gente ama definhar. Era difícil acompanhar tudo, mas eu ia todos os dias. Papai faleceu em 20 de janeiro de 2018.
Um dos primeiros rodeios em que fui depois disso foi o The American. Fiz o meu melhor, mas não cheguei à decisão. Na sequência da temporada, foi difícil ver minha mãe na arquibancada e não meu pai, mas consegui. De certa forma, sentia ele mais próximo, como se estivesse dentro do brete comigo. Percebi então que ele me vê correndo cada bezerro agora. Isso é o que ele sempre quis.
Papai praticamente me ensinou tudo o que sei sobre o esporte. Laçar é praticamente tudo o que fizemos desde que meu irmão e eu tínhamos três ou quatro anos de idade. Nós crescemos em Yorktown, Texas, a sudeste de San Antonio. Íamos a todos os rodeios que queríamos. Mas ele nos ensinou mais do que apenas laçar, incentivou nosso talento, fez com que evoluíssemos, nunca deixou que desistíssemos.
Alguns anos depois, fui para a faculdade e, quando casei com minha esposa Brenna, nos mudamos para Bellville, a oeste de Houston, onde mora sua família. Cerca de dois anos antes de meu pai falecer, ele se aposentou. Então, ele e minha mãe, Denise, mudaram-se para Sealy, a dez quilômetros de Bellville. Queriam estar mais perto de nós e do hospital para o tratamento. Por esses dois anos, fizemos tudo juntos. Papai estava aqui todos os dias, me ajudando a treinar, mesmo com dores. Esse tempo também o fez conviver muito com meu filho, Cru, e isso me deixa feliz. O pequeno ainda pergunta pelo avô.
Outro revés
Apesar da tristeza de perder meu pai, eu tive uma boa temporada ano passado. Montei meu cavalo Pockets, estou com ele desde 2015. Um dos responsáveis pelo meu segundo título mundial no final do ano. Ele é muito grande, forte e ágil. Sabe trabalhar os bezerros. Depois que ele sofreu um problema nos pés, passei a montar El Gato e continuei em uma boa fase, ganhando bastante para ficar em uma boa posição no ranking mundial.
Classificado, eu passei mais tempo em casa. Temos cerca de dois meses desde quando a temporada se encerra até a data das Finais, então gosto de passar um bom tempo com a minha família. E eu tinha um motivo a mais para querer estar em casa: Brenna estava grávida do nosso segundo filho. E estávamos ansiosos para um grande casamento na família.
Cinco semanas antes do início da NFR, o irmão mais novo de Brenna, Will Byler, e sua noiva, Bailee Ackerman, se casaram no rancho da família Byler perto de Uvalde, Texas. Eles se conheceram na Sam Houston State University, onde ambos estavam no time de rodeio. Will, no Bulldog, tinha o Permit da PRCA. Bailee estava se preparando para fazer parte da equipe de bandeira na NFR 2018.
Uma tradição na família da minha esposa é que quando um Byler se casa, os recém-casados saem da festa no helicóptero da companhia Byler. Brenna e eu deixamos nosso casamento dessa forma. A irmã de Brenna, Lynette, e seu marido, Rowdy Parrott, também. E assim fizeram também Will e Bailee. Eles decolaram pouco antes da meia-noite de 3 de novembro, para voar até San Antonio. Era uma noite perfeita – céu limpo, sem vento – sequência de um casamento perfeito.
Na manhã seguinte, por volta das 6h30, meu celular tocou. Eu vi que era Lynette. Ela nunca me ligou tão cedo e eu não sabia o que pensar. Quando eu atendi, a voz dela estava calma e me disse que não sabiam o que tinha acontecido com Will e Bailee, pois não tinham chegado ao destino, não tinham feito o registro no hotel. Brenna e eu nos levantamos, mas nos sentimos impotentes, tentando nos manter positivos. Talvez eles tivessem pousado em outro local, sem sinal de celular.
Uma tripulação em outro helicóptero foi procurá-los. Eles encontraram os destroços ao lado de uma montanha remota. Ainda não sabemos exatamente o que aconteceu, mas não houve sobreviventes. Will e Bailee tinham vinte e três anos de idade. É a última coisa que você espera depois de um dia tão feliz. De repente, tornou-se o dia mais triste.
Como sempre faço, me voltei para Deus. Ele tem sempre um plano melhor. Você só precisa seguir em frente, dia após dia. Foi o que fizemos em novembro. Muitas famílias são dilaceradas por uma tragédia e nós ficamos mais juntos do que nunca. Passamos por isso juntos, e ainda estamos. E estava muito próximo de Brenna ter o bebê, 7 de dezembro, ela podia dar à luz, inclusive, durante a NFR.
Mas nossa filhinha, Myla Pearle, nasceu em 12 de novembro de 2018, poucos dias depois dos funerais. Ela chegou mais cedo do que o esperado, mas Deus sabia que precisávamos dela. Com tudo isso acontecendo, como fiquei focado na Finals? Não tenho certeza. Eu não sou um cara focado mentalmente, apenas tento fazer o que precisa ser feito. Não dava para ficar parado vendo a vida passar. Esse é o meu acordo desde que perdi meu pai. Preciso continuar fazendo algo e estar perto das pessoas.
Um trabalho a fazer
Tinha que fazer Pockets voltar à forma para as Finais. O exercitei por um mês, mês e meio. Ele parecia tão bom quanto sempre foi. Não fui a nenhuma prova ou rodeio com ele nesse período, apenas treinando em casa. Ganhei a primeira rodada quando a NFR começou, então, tudo estava bem. Minha família e a família de Brenna estavam em Las Vegas comigo. Sei o quanto deve ter sido difícil para os Bylers, mas eles foram me apoiar. Antes do acidente, meu sogro ia me ajudar a treinar.
Dei de presente para meu sogro, Bill, minha fivela da primeira rodada. A NFR é uma maratona, então tive a sorte de estar rodeado pela família o tempo todo. Dia após dia, alguns eu pontuava e o ranking seguia seu curso, até a décima e última rodada. Nesse momento, Tuf Cooper tinha uma grande vantagem em relação a mim. Mas ele apenas ficou em sétimo ou oitavo lugar na média. E eu estava pontuando em primeiro. Analisei bem o que eu precisava para ficar com o título.
Não foi muito simples, dependia um pouco da performance de outros laçadores. Mas, sobretudo, dependia de mim. Precisava acertar a laçada, fazer um bom tempo para terminar em primeiro lugar na média e pontuar bem. Marquei 8s1, empatei com o sexto melhor tempo da rodada. Tuf teve um pouco de azar, errou a laçada. Depois disso acabou. Não me lembro o que aconteceu na sequência. É como um apagão.
Todo mundo desceu das arquibancadas e tiramos muitas fotos. Papai, Will e Bailee não estão nelas, mas o resto da família estava lá. Eu não teria ganho nada se eles não fossem. Então, três meses depois de ganhar meu segundo título mundial, ganhei o The American, um cheque de US$ 100.000,00. Como a metade desse valor contou para o ranking da PRCA, me ajudou muito e estou praticamente garantido na NFR novamente. (Caleb é o terceiro no Tie-Down Roping no momento).
Eu ainda não consigo acreditar em tudo que aconteceu comigo e com minha família. Este foi um dos melhores anos, mas também um dos piores. Uma das coisas que me faz continuar é saber que as pessoas que perdi – meu pai, Will, Bailee – estão mais próximas do que nunca de mim agora. Eles estão no céu e estão comigo o tempo todo. Papai sempre quis ir a todos os rodeios, me ver laçar cada bezerro. Agora ele está em todos os lugares, em qualquer rodeio que eu estou, ele está lá comigo. Ainda falo com ele como se ele estivesse aqui, porque eu sei que ele está comigo!
Por Caleb Smidt/The Cowboy Journal
Tradução e adaptação: Luciana Omena
Fotos: Matt Cohen