Tétano: Seu cavalo sob ameaça

Como evitar a perda do animal contaminado com a substância Clostridium tetani

Imagine uma substância tóxica da qual uma quantidade mataria apenas uma galinha, porém quatrocentos cavalos. Isso mesmo, uma substância que, por equivalência de peso, é duzentas mil vezes mais tóxicas para cavalos do que para galinhas e que afeta praticamente todas as espécies animais.

Apenas uma criatura é mais sensível a ela do que os cavalos: o ser humano. Esta substância letal existe e é conhecida como toxina tetânica, produzida pelo Clostridium tetani, bactéria causadora do tétano. Felizmente, a vacina contra esta terrível doença existe, tem elevada eficiência e é barata.

Por que então tantos cavalos morrem de tétano todos os anos Brasil afora? O Clostridium tetani é um bacilo que habita os solos terrestres e o intestino dos animais, preferindo as regiões de clima quente e úmido. Ele também é anaeróbico, significando que prefere a ausência de oxigênio, morrendo ou tendo a vitalidade bastante diminuída na presença de ar atmosférico.

Os processos metabólicos do bacilo liberam uma neurotoxina que atua sobre o sistema nervoso central dos animais, causando sintomas neurológicos diversos, dos quais o mais típico é a rigidez muscular progressiva, que culmina com a paralisia dos músculos respiratórios e cardíaco, levando à morte. No início da doença, muitos cavalos afetados apresentam fotofobia (sensibilidade à luz) e reações violentas a ruídos altos, pois sua percepção auditiva também fica alterada.

O tétano é uma doença traiçoeira, pois muitas vezes a fonte contaminante é um ferimento pequeno que sangrou pouco ou nada, e por isso mesmo passou despercebido, especialmente naqueles cavalos que ficam soltos a pasto e/ou não passam por revisão diária por parte dos tratadores.

O ferimento original, porta de entrada do bacilo – tal como um furo por arame ou prego, ou um arranhão coberto por pelos longos – pode até cicatrizar superficialmente, enquanto no espaço subcutâneo e na musculatura o Clostridium tetani se desenvolve no seu meio favorito – quente, úmido e longe do ar puro.

Esta é uma das razões pelas quais é tão importante fazer curativos diários nos ferimentos dos cavalos, e também manter os mesmos abertos, removendo as crostas antigas das lesões. A doença instalada exige a presença imediata do médico veterinário, que deverá iniciar um tratamento agressivo incluindo soro antitetânico, sedativos, antibióticos e terapia de suporte, além de limpeza e drenagem de ferimentos, quando ainda existentes.

Manter o cavalo em ambiente tranquilo e escurecido e oferecer alimentos leves de fácil digestão (pasto verde de boa qualidade) também auxilia no tratamento. Entretanto, o tétano clínico progride rapidamente, e mesmo que sobrevivam, os animais afetados podem sustentar sequelas vitalícias.

Por isso, o manejo preventivo, sanitário e ambiental, é tão importante. Todas as pessoas responsáveis por cavalos precisam entender as diferenças entre soro e vacina antitetânica. A vacina confere imunização ativa, ou seja, estimula o organismo do animal a produzir as próprias defesas (anticorpos) contra a doença.

A proteção conferida pela vacina demora um mínimo de duas semanas para começar a agir, significando que a vacina funciona bem quando aplicada em cavalos saudáveis. Se o animal já foi exposto à infecção por Clostridium tetani, devemos optar pelo uso do soro antitetânico, que contém anticorpos específicos para a doença – dizemos que ele confere imunidade passiva.

Esta, no entanto, perdura no máximo dez dias. Soro e vacina antitetânicos não são substitutos um do outro, porém devem ser utilizados de maneira complementar: a vacina anualmente em todos os cavalos, e o soro sempre que uma proteção adicional se fizer necessária – inclusive em cavalos já vacinados.

Dicas e fatos

  • Cavalos de todas as idades, por toda a vida, devem ser vacinados anualmente contra o tétano.
  • Todos os ferimentos dos equinos precisam ser considerados causadores de tétano em potencial, especialmente aqueles que sangram pouco. Precisam receber curativos diários em profundidade, incluindo limpeza, desinfecção, e só depois a aplicação de pomadas cicatrizantes.
  • Muitos casos fatais de tétano são causados por pequenos ferimentos que passaram despercebidos – cortes debaixo da crina, na sola do casco, ou perfurações de cerca, por exemplo. Esta é uma razão importante para a revisão diária cuidadosa dos animais, feita durante a escovação.
  • O soro antitetânico deve ser aplicado sempre que há ferimentos, lesões de casco, suturas, e também em cirurgias e procedimentos eletivos, tais como castração.
  • O tétano pode ser controlado e curado apenas logo após o início dos sintomas, desde que o tratamento seja imediato e agressivo. A vigilância dos encarregados e veterinários é essencial, incluindo o surgimento repentino de sintomas neurológicos – descoordenação, medo da luz, reações fortes a ruídos altos – e rigidez muscular progressiva, começando pela projeção da terceira pálpebra.
  • Os cuidados preventivos em relação ao tétano devem incluir a revisão e manutenção cuidadosas de cocheiras, cercas e demais instalações.

Por Por Claudia Leschonski, MV
Fonte: Editora Passos
Foto: animalhealthireland

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