Saúde & Bem-estar

Manejo e alimentação de cavalos de lida de gado

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De que modos são mantidos, na maioria das fazendas, os cavalos de lida?

Usamos nosso espaço, na maior parte do tempo, para falar dos cavalos voltados para a atividade esportiva. Mas acreditamos que podemos discursar um pouco sobre os cavalos usados somente para a lida do campo, nas fazendas, que trabalham com manejo de gado, por exemplo. Fomos buscar conhecimento sobre o assunto e encontramos o Prof. Dr. Alexandre Augusto de Oliveira Gobesso, uma sumidade no que se diz respeito à saúde animal e manejo no Brasil.

A colocação do Brasil como importante produtor e exportador de carne bovina, sua grande área territorial e a recente necessidade comercial de produção de ‘carne verde’, contribuem para consolidar a importância da manutenção de quantidade adequada de equinos e muares para o manejo destas propriedades. Basta observar os números que revelam o tamanho da área ocupada por pastagem cultivada destinada à bovinocultura de corte, cerca de 220 milhões de hectares, para um rebanho de 163 milhões de cabeças (FNP, 2002).

Esses companheiros de trabalho vêm desempenhando, ao longo dos anos, uma tarefa fundamental na manutenção dos rebanhos bovinos, notadamente nas regiões de criação extensiva. Mas, alguns detalhes no manejo diário desses animais precisam ser observados cuidadosamente, no sentido de otimizar a sua eficiência no trabalho e possibilitar muitos anos de utilização eficiente. De que modos são mantidos, na maioria das fazendas, os cavalos de lida? Existe a preocupação com a alimentação e sanidade? E o número de equinos é suficiente para suportar o trabalho e a condição de manejo?

É relativamente comum observar, nas fazendas de criação extensiva de bovinos, principalmente na região central do país, a presença dos cavalos de serviço nos pastos de baixadas ou próximos aos currais, ou até mesmo em áreas de morros, não mecanizáveis. O primeiro passo é lembrar que os cavalos são herbívoros e, como tal, têm como principal alimento a pastagem. Foram adaptados na anatomia e fisiologia de seu aparelho digestivo, durante a evolução, a ingerirem pequenas quantidades de alimento (gramíneas, leguminosas), várias vezes ao dia. Após a domesticação pelo homem, passaram a trabalhar o dia todo e serem alimentados com grãos e farelos, o que contribuiu, severamente, para a grande incidência de distúrbios alimentares (cólicas) que ocorrem nos dias atuais.

A pastagem, quando deficiente, pode ser substituída por alguma capineira ou feno, fornecido no cocho, mas é importante ressaltar que esses animais não comem a maioria das Brachiarias mais utilizadas nas pastagens para bovinos. Este talvez seja a maior dificuldade a ser corrigida. Os equinos comem apenas a Brachiaria humidícola, com graves restrições quanto ao balanço mineral e tanner-grass (capim de brejo), que não são as mais utilizadas para formação de pastagem. Apenas a região sul do país não enfrenta grandes problemas na alimentação dos seus cavalos de lida, já que tem pastagens nativas de azevém e alfafa, que são excepcionais alimentos. Outras propriedades em regiões de maior altitude têm pastos nativos que são bem aproveitados pelos equinos.

De qualquer modo, é preciso resolver essa falha. Uma alternativa seria a formação de piquetes de colonião e suas variedades (tanzânia, mombaça…) ou de Grama Estrela. Algumas propriedades possuem pastos de Capim Gordura e Grama Batatais (forquilha), bem aceitos pelos cavalos, mas pobres em nutrientes e praticamente cessam o crescimento no período de estiagem que, no Brasil central, coincide com o inverno.  Sempre é bom lembrar que a manutenção de pastos adequados para os cavalos de lida aumenta a disposição e resistência para o trabalho e elimina a necessidade de fornecimento de suplementos concentrados, como ração, rolão de milho, ou até mesmo milho em grão. Neste sentido, cabe lembrar que o trabalho realizado na maior parte das propriedades que exploram a criação extensiva de bovinos é considerado, pelas tabelas de avaliação de esforço, leve, sendo que apenas o fornecimento de alimento volumoso de boa qualidade, pode suprir suas exigências.

Na necessidade de fornecer um suplemento concentrado, que pode ocorrer principalmente nos períodos de estiagem prolongada, o recomendado é que se utilize alimentos com grande quantidade de fibras, como rolão de milho e farelo de trigo, não sendo indicado o uso de grão de milho, devido à baixa quantidade de fibras e grande quantidade de amido, que é considerado o maior ‘vilão’ causador de cólicas nos equinos.

Como já foi dito anteriormente, nada substitui o alimento volumoso, e é fundamental a presença de fibras longas (mais de 4 cm.) na dieta desses trabalhadores. No mesmo sentido, o fornecimento de um suplemento mineral adequadamente formulado para atender as exigências nutricionais dos equinos precisa ser fornecido. É oportuno ressaltar que as formulações minerais utilizadas para bovinos, não atendem as necessidades dos equinos  e a grande quantidade de sal comum (Cloreto de sódio) presente nessas misturas inviabilizam ainda mais a ingestão por parte dos equinos e quando isto ocorre, é acompanhada de grande ingestão de água, que pode atrapalhar a função digestiva e de trabalho.

A mistura mineral formulada para equinos deve ser fornecida à vontade, em formulações prontas para uso, sem adição de sal comum e em locais onde os bovinos não tenham acesso, uma vez que estes tendem a ingerir avidamente esse suplemento. A importância do oferecimento desse suplemento se baseia no fato de os cavalos de trabalho terem grandes perdas de minerais pelo suor, principalmente nas regiões de clima quente e para a contração muscular. Também é fundamental para apoio na regulação da reprodução, para aquelas propriedades que criam seus cavalos de serviço, sendo que o não fornecimento pode prejudicar os índices de fertilidade do rebanho equino.

Outro cuidado a ser observado é em relação ao controle de ectoparasitas. Os equinos são parasitados, normalmente por três espécies de carrapatos, o Amblyomma cajenenses, Anocentor nitens e Boophilos microplus. O Amblyomma, conhecido na fase larval como micuim, na fase de ninfa como vermelhinho, e na fase adulta com estrela, é o que aparece em maior quantidade de mais difícil controle. O Anocentor é conhecido como carrapato da orelha dos cavalos, mas também se coloca nas regiões de crina e cauda. Já o Boophilus é o carrapato dos bovinos, que ocasionalmente, pode parasitar os equinos.

O controle dessas três espécies de carrapatos se baseia nas pulverizações regulares, com produtos efetivamente reconhecidos e na diluição adequada e com a regularidade controlada pela carga parasitária: quanto mais carrapatos, menor o intervalo dos ‘banhos’. Cabe aqui frisar que o volume de ‘calda’ ou antiparasitário diluído em água para cada cavalo, para uma pulverização adequada, é de no mínimo quatro litros, ou seja, uma bomba costal de 20 litros é suficiente para ‘banhar’ cinco cavalos. Neste controle, deve-se ter cuidado especial com orelhas, crina e cauda, devendo-se utilizar outros produtos inseticidas, em pó, para aplicação nestas regiões.

Quanto à aplicação de drogas para controle de endoparasitas (vermes), existem no mercado, produtos de aplicação via oral, com eficiência comprovada, que devem ser usados, pelo menos três vezes por ano nos equinos adultos e cinco vezes por ano nos potros de menos de dois anos de idade. É preciso ter cuidado no uso de drogas injetáveis, não indicadas para equinos, que podem causar reações inflamatórias musculares e subcutâneas (abscessos) que, em muitos casos, prejudicam o uso deste animal de serviço, sem contar o gasto com medicamentos para tratamento.

Os rebanhos de cavalos de lida devem sem imunizados contra tétano, doença de alta incidência entre a espécie, apenas uma vez por ano, e nas regiões endêmicas, vacinados contra raiva, exigência dos órgãos de controle sanitário. Para concluir, a observação de alguns itens de manejo como a manutenção de pastagem adequada, a busca pelo fornecimento de suplemento mineral que pode, rapidamente, melhorar o desempenho reprodutivo e de trabalho, sem contar a aparência (brilho dos pelos), o controle de ecto e endoparasitas e a prevenção, através de vacinação de algumas doenças de grande incidência nessa espécie podem resultar, com investimento relativamente pequeno, na otimização da utilização desses ‘companheiros de trabalho.

Fonte: Tortuga

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