Obtenha progressos com a técnica de ‘avançar e retroceder’ e saiba como manter seu cavalo calmo, confiante e disposto a atender aos seus comandos

Madison havia sofrido abusos dos proprietários anteriores. A égua de sete anos de idade tinha marcas de queimaduras de cordas nos dois lados do pescoço e uma cicatriz na cabeça por ter sido atingida por uma pá. Dizer que ela era traumatizada seria pouco. Então, ensinei ao atual proprietário a técnica de ‘avançar e retroceder’, o mesmo sistema que uso para adaptar cavalos que se assustam com tosqueadeiras, selas e sprays contra insetos. E deu certo.
Com Madison, meu trabalho consistiu em lidar com os traumas dela, sempre lhe transmitindo confiança. O primeiro passo foi subir lentamente a minha mão pelo pescoço dela, dirigindo os meus dedos para a nuca e às orelhas até chegar ao ponto onde ela tencionava. Quando encontrei tal limite, parei de avançar, mas não retirei a mão. Se eu fizesse isto, estaria recompensando-a por ficar tensa, algo que eu não queria. Ao invés disso, mantive a posição e esperei que ela relaxasse um pouco. Isso se chama ‘retroceder’.
Com Madison, tive a preocupação de descansar meu braço sobre o pescoço dela, assim, quando ela balançava a cabeça, meu braço ficava estabilizado, movimentando-se junto a ela. É fato fisiológico que os cavalos não conseguem tencionar-se e baixar a cabeça ao mesmo tempo. Então, tão logo ela baixava a cabeça, eu retirava a minha mão de seu pescoço e saía andando.
Outra etapa de ‘avançar e retroceder’ é o condicionamento repetitivo, ou seja, exercício de repetição. No caso de Madison, cada vez que eu a tocava, ela baixava a cabeça. Eu retirava a minha mão, esperava alguns segundos, depois voltava a tocá-la. Repeti este movimento padrão várias vezes. O importante nesta técnica é que você apenas solte a pressão quando obtiver a resposta desejada.
O que torna um equitador comum num treinador eficiente é o momento de soltar. É preciso feeling, saber o momento certo de aliviar a pressão. Se o timing não estiver certo, você ensinará o cavalo a ter medo do estímulo. É como se fosse uma conta bancária – cada vez que você retroceder de maneira acertada, estará depositando dinheiro. Se retroceder no momento errado, estará fazendo um saque.
Uma vez que ela aceitou meu toque na parte de trás da orelha (a esta altura eu já havia repetido o processo várias vezes), comecei a acariciá-la. Espere o cavalo relaxar e em seguida solte-o. Quando o equino estiver tranquilo contigo acariciando sua orelha vá além. Toque com os dedos todas as partes da orelha do animal, de dentro para fora e vice-versa. Esse é um passo importante porque libera endorfinas: dá um ‘barato’ ao animal, algo que é tranquilizante, positivo.
É difícil não se tornar egoísta ao treinar cavalos. Quando temos as respostas que queremos, exigimos mais. Às vezes acontece de você pedir e o cavalo não responder. Assim, estabelece-se a briga. Nestes casos, você tem duas opções: ou recolhe o animal e volta a trabalhá-lo no dia seguinte ou persiste por mais alguns minutos. Recomendo que não guarde o cavalo se estiver em situação mal resolvida. Eu simplesmente proponho outro exercício a ele. Peço algo que ele faça com facilidade, só depois o levo para o devido descanso
Por Julie Goodnight (America’s Horse)
Tradução e adaptação: Editora Passos
Fotos: Arquivo Pessoal