Família Ferraz, amor aos cavalos que passou por gerações

Construindo em Bauru uma forte ligação da cidade com o campo, contribuindo com a expansão do Quarto de Milha e dos esportes equestres

A família Ferraz tem um papel importante na história de Bauru, da raça Quarto de Milha na cidade e também para os Três Tambores. Tudo começou com Plinio Ferraz, que escolheu Bauru para viver. Pai de sete filhos: Guilherme, Roberto, Vera, Plínio, Martha, Cecília e Marcos. Tornou-se um grande pecuarista formando a Fazenda São José. Sempre participou dos acontecimentos da cidade, ajudando no seu desenvolvimento. Foi um percursor da raça Nelore.

Foi ele que doou área superior a 40 mil metros quadrados para construção da Sociedade Hípica de Bauru, inaugurada em 30 de novembro de 1953, sendo seu primeiro Presidente. O hipismo bauruense viveu durante muitos anos um esplendor grande no cenário estadual. Em abril de 1946, inaugurou o Recinto Mello de Moraes, com área também doada por ele. Essa obra teve apoio do então Secretário da Agricultura, Mello de Moraes, a quem homenageou nomeando o parque.

Marcos Rodrigues Ferraz

A ‘pedra fundamental’ do recinto de Bauru guarda em sua caixa de concreto a ata de assinaturas das autoridades e dos presentes na inauguração, sob o mastro principal do Recinto. Por muitos anos, também as instalações do recinto foram para ‘posto de monta’: com taxas simbólicas, os médios e pequenos produtores rurais delas se serviam para acasalar suas matrizes com reprodutores de linhagens diferenciadas, fossem bovinos, equinos, asininos, caprinos, ovinos ou suínos.

E Marcos Rodrigues Ferraz, um dos sete filhos de Plinio, deu sequência ao seu legado no campo, revolucionando a raça Nelore. Foi presidente da Associação Rural do Centro Oeste Paulista – ARCO, em 1976. E anos antes, junto a Heraldo de Araújo Pessoa, trouxe a raça Quarto de Milha para Bauru, como contam os filhos Rogério e Verena Ferraz:

Rogério Ferraz, no Recinto em Bauru, 1981

“Meu pai, desde criança, foi apaixonado por cavalo e veio pequeno de São Paulo. Meu avô doou o terreno da hípica que meu pai saltava. E tinha os amigos Heraldo e Fauzet, que também saltavam, todos apaixonados por cavalos. Meu pai e Heraldo começaram a criar cavalo, arrendaram um animal do Chiquito Correa de Araçatuba. Naquela época, registrava filho mestiço e depois compraram um potro puro na King Ranch, chamado Cacareco Brasil. O início da criação do Quarto de Milha em Bauru foi esse”.

Marcos Ferraz foi um grande criador de cavalos, teve importantes exemplares da raça, foi fundador do Clube do Laço. O criador adorava montar, chegou a competir Maneabilidade e Velocidade. Pai de cinco filhos, todos gostavam do campo, mas os que realmente se envolveram foram Rogério e Verena.

Verena, em 1970 no Recinto, já montada num Quarto de Milha

“Eu fiz Tambor e Laço, mas gostava mesmo de laçar bezerro, corri muito no recinto, mas era difícil conseguir bezerro. Treinava na fazenda uma vez por semana. Fiz curso com Bob Seels, o primeiro americano a vir ao Brasil dar um curso, em Presidente Prudente/SP. Lá o laço era forte e em Bauru, o Tambor”, contou Rogério. E ele teve muitas vitórias no laço bezerro, competia com os grandes nomes como Lucinei Nunes Nogueira, o famoso Testa. No Tambor também fez bonito e conquistou títulos regionais.

O envolvimento de Rogério com os cavalos o fez parte integrante da história, quando em 1996, o Núcleo do Cavalo Quarto de Milha – NBQM foi fundado. “Na época, a ABQM estava estimulando a criação de núcleos, porque os campeonatos eram regionais. E o Dr. Marcos Freitas queria fomentar mais para que as crianças e os jovens tivessem mais oportunidades. Já haviam outros campeonatos nesse período, o da APCT e ANBT”, lembrou Rogério. Verena desde pequena gostava de Três Tambores e acompanhava o pai e o irmão nas provas, mas fez Hipismo por muito tempo. Se formou em Terapia Ocupacional e por muitos anos morou fora de Bauru.

Rogério laçando em Novo Horizonte

“Casei, estudei, mudei de Bauru, quando voltei fiz um curso de Equoterapia, sou formada em Terapia Ocupacional e queria montar algo com os cavalos. Aí meu primeiro aluno foi o Pedro Borges e ele já fazia Três Tambores. Nisso revivi a história. Acabei montando uma Escolinha de Tambor, o Pedro me emprestou uma égua dele e começamos. Jamais pensei que ia fazer Tambor de novo, já tinha dois filhos. Era para ser só de equoterapia”, detalhou Verena. Com a égua do Pedro, a Queen Diamond Cash, ela foi campeã tricampeã paulista pela APCT e bicampeã Feminino na NBQM.

Play Horse

Após esse período, ficou um tempo parada, e foi quando teve a ideia de movimentar o Play Horse, que é na Fazenda Retiro São José, aquela lá do começo da história. “Pensei em organizar um treino-pago em que qualquer tipo de cavalo participasse e assim movimentar a região, pois as provas andam muito fechadas e isso, às vezes, atrapalha. Quem gosta, começa com um cavalo sem raça, emprestado e vai chegar ao Quarto de Milha depois”, expôs Verena.

A primeira Play Horse foi em parceria com a Simone Pongitore, em 2014, com 378 inscrições. O que foi uma surpresa para ela. “Esse foi o primeiro ano do Play Horse, ligamos para algumas pessoas, criadores, treinadores, convidando. E foi uma prova muito boa”.

Pista da Fazenda São José onde hoje é o Play Horse

Em 2018 deu início oficialmente a 1ª Copa Play Horse, que pontua para ABQM, com seis etapas, que finalizam agora em maio. “Gosto das provas avulsas, sem compromisso. O Play Horse tomou uma proporção que fiquei assustada, nós não limitávamos inscrições. E elas foram aumentando, chegaram a 570, até já tinha dado tempos de 16 segundos. Nesse dia, a prova acabou quase meia noite com dois tratores na pista, isso porque foi muita gente embora”.

Ela reforça que correram 21 categorias em um dia. Então, partir da etapa seguinte, começaram a limitar o Test Horse, hoje são 160 vagas apenas. E as provas em Bauru são sempre uma surpresa, pois mesmo com chuva elas acontecem e são sucesso, tudo isso devido ao solo diferenciado que tem na cidade.

“Já pegamos dia de chuva, mas a prova aconteceu do mesmo jeito, porque o solo é arenoso, para o cavalo trabalhar é diferente, e criamos o prêmio ‘melhor tempo do dia’, porque existem variáveis que interferem nisso, principalmente na pista aberta, e virou uma sensação”, reiterou Verena.

Pista de grama em Ourinhos em 1976

Ela e Rogério são apaixonados pelos cavalos e mesmo se afastando em alguns momentos do meio, não o deixaram para trás em suas vidas. “O cavalo é família, não é só a competição, sou fã de cavalo, competimos para estar em cima do cavalo e não o contrário. Ele é um agente de amizades, negócios, afeição, de terapia”, finalizou Verena.

Rogério Ferraz fala que são muitas boas lembranças, e que há uma frase que marca muito ele. “Na hípica tem uma frase que chama muito minha atenção, por sua veracidade – ‘quando os estribos se tocam está feita a camaradagem’. O cavalo além de dar prazer, dá longas e verdadeiras amizades.”

Por Verônica Formigoni
ESPECIAL Bauru – Revista Tambor & Baliza – Ed. 83
Fotos: Cedidas

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