Biomecânica Equina para entender a ‘manqueira’

Para entender melhor algumas enfermidades, como a ‘manqueira’, é preciso, muitas vezes, de uma investigação digna de um detetive profissional. Então é quase inevitável que as pistas levem à articulação

Algumas respostas para diversas perguntas sobre problemas articulares nos cavalos advêm do conhecimento da Biomecânica Equina. Já reparou como algumas pessoas têm grandes problemas com os seus cavalos, de forma permanente, nos cascos, nos curvilhões e no dorso? Esses problemas, não surgem devido a ignorância ou falta de cuidado. Longe disso! Surgem porque não conseguem ver onde é que as coisas correm mal.

Quando um cavalo apresenta ‘manqueira’ (excluindo lesões), a primeira coisa que queremos saber é o porquê. Seria genética, dieta, conformação ou ferrageamento? Ou rigidez do solo da da pista e ainda arreios, obstáculos, forma de montar? Quantos cavaleiros se consideram como causa possível da ‘manqueira’?

Habitualmente, o tratamento recomendado envolve cirurgia. Mas, mesmo após as técnicas cirúrgicas mais recentes e menos invasivas, não existe nenhum atalho para a cura. O cavalo necessita de semanas, ou possivelmente de meses, de convalescença e contenção. Situações que provocam muita ansiedade aos proprietários e uma experiência que a maior parte de nós não gostaria de ver repetida.

Como funciona o sistema?

Quando um cavalo apresenta ‘manqueira’ persistente, surge um momento em que decidimos debruçar-nos sobre o problema e descobrir a verdadeira causa. Nessa altura, debruçamo-nos sobre a anatomia, procurando uma imagem da sua arquitetura a nível molecular e esquelético. Um mapa dos músculos, ossos e tendões, onde possamos observar onde é que encaixa o quê. O que tudo isto não nos mostra é como funciona o sistema.

O estudo da anatomia tem uma longa e relevante história que começou pela exploração do corpo. Os primeiros estudantes desta ciência trabalharam com cadáveres humanos dissecando os tecidos e anotando as camadas de músculos à medida que os iam encontrando. No entanto, este processo tinha um contra muito grande – um tendão ou músculo após a dissecação não demonstra a forma como funciona. Durante nada menos de 500 anos esta foi a única forma de estudar anatomia.

As imagens anatômicas convencionais ainda são apropriadas para intervenções cirúrgicas uma vez que as suas fases são idênticas às da dissecação anatômica. Mas para percebermos e explicarmos a mecânica do sistema esqueleto muscular necessitamos de uma apresentação diferente. Necessitamos de construir camadas de componentes e não dissecá-las.

Biomecânica Equina para entender a ‘manqueira’ Para entender melhor algumas enfermidades, como a ‘manqueira’, é preciso, muitas vezes, de uma investigação digna de um detetive profissional. Então é quase inevitável que as pistas levem à articulação

Avaliação correta

Para percebermos a função dos tecidos músculo-esqueléticos na produção de movimento temos que pensar neles não como matéria viva, mas como instrumentos mecânicos.

Pode-nos parecer improvável que o formato natural dos ossos e articulações – que por vezes são frágeis e torcidos – sejam comandados pelas mesmas leis mecânicas das máquinas feitas pelo homem. No entanto não há nada efêmero na engenharia músculo-esquelética nada de eclético no seu traçado. Nem um ‘ioda’ de substância óssea, de fibra muscular ou de cartilagem articular no corpo do cavalo são, é supérfluo. Tudo tem a sua finalidade; a identificação dessa finalidade é fundamental para que a máquina funcione.

Quer montemos, treinemos ou tratemos dos cavalos, devemos ser capazes de avaliá-los em movimento com a maior exatidão possível. Visualizar a ação como uma série de sequências é uma ajuda apesar um pouco frustrante de pôr em prática devido à aproximação tradicional à anatomia.

É, portanto, fácil de perceber que algumas pessoas tenham começado a procurar uma nova perspectiva sobre os andamentos: menos ilustrada e mais analítica. A palavra biomecânica já começou a introduzir-se no vocabulário dos treinadores. Enquanto a anatomia passou à história, a biomecânica está definitivamente ‘in’.

Claro que não faz sentido, dissociar duas ciências interdependentes, que devem estar unidas: anatomia e biomecânica andam a par. Os nomes dados aos músculos são rótulos que evidenciam um formato, uma localização e ocasionalmente uma função. Escritos em grego e em latim, devemos aprender a pronunciá-los mas, continuam a ser rótulos. Na explicação da biomecânica contribuem tanto como os nomes dos seus dinossauros preferidos!

O que é a biomecânica?

A biomecânica é o estudo das leis mecânicas relacionadas com o movimento e estrutura de organismos vivos. Essa é a sua definição no dicionário. Por outras palavras a biomecânica avalia o padrão de movimento das estruturas músculo-esqueléticas normais numa espécie identificada. É diferente dos estudos sobre locomoção que identificam parâmetros especiais de movimento para grupos de idades iguais, raças ou formas especiais de treinos.

Não existe nada misterioso na biomecânica. A melhor forma de avaliar isto é pensar nela como uma forma de tradução. Traduz a linguagem da anatomia para a linguagem da mecânica. Um exemplo típico é a forma como descrevemos os mecanismos articulares – a rótula é a dobradiça. É fácil imaginar como funciona, basta olharmos para os objetos que nos rodeiam.

Se amontoamos em coluna uma série de dobradiças, umas em cima das outras e um rolamento no topo podemos começar a reconhecer a formação óssea do membro de um cavalo – para além disso podemos ver muitas das suas implicações mecânicas.

Claro que esta estrutura não consegue funcionar sem a aplicação dos músculos. Todavia, os músculos nunca mudam a fundação mecânica de base. Se o tentarem fazer acabam por provocar problemas.

Fonte: Dra. Sara Wyche/Equisport
Crédito das fotos: Divulgação

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