Curso prático de avaliação de equinos parte final

Agora chegou a hora de falar sobre Cabeça, Audição do cavalo, Narinas, Boca, Focinho, Olhos, Campo de Visão, Pescoço, Musculatura, Tronco, Peito e Tórax

O nosso curso prático de avaliação de equinos já passou pelas fases comportamento animal, conformação, conceito da raça, entendendo o cavalo quarto de milha e dinâmica de locomoção equina. Desde muito novo, os cavalos já faziam parte de minha vida e como tal, nos primeiros momentos, a paixão era a única forma de se avaliar um cavalo e como qualquer marinheiro de primeira viagem, nem sempre a escolha determinava o cavalo certo.

Uma vida de práticas, de estudos, de pesquisas, que permitiram ousar a escrever este trabalho no intuito de contribuir com algumas dicas importantes para uma boa e segura avaliação de um cavalo, seja para o esporte ou lazer. Espero de alguma forma ter sido útil! Vamos a última parte.

Prosseguindo em nossas análises, vamos agora avaliar o cavalo da raça Quarto de Milha, baseando nossas observações no padrão racial, dando algumas informações de caráter prático assim como, parâmetros zootécnicos.

Cabeça

Através da cabeça poderemos observar grande parte das expressões do cavalo, por isso, além de suas características raciais, elas mostram vários pontos. A cabeça deve apresentar uma conformação característica da raça, tais como:

– Cabeça pequena e leve, em posição normal, ligada ao pescoço em ângulo de 45 ⁰ com perfil reto (retilíneo).

– Fronte ampla, faces cheias, grandes, musculosas, redondas e chatas. Ganaches bem mais largas que a garganta.

– Orelhas devem ser paralelas, assimétricas, proporcional e bem implantada. É um meio importante do cavalo se expressar. Deve ser bem implantada em sua base, ter boa movimentação nos permitindo observar seu estado de espirito.

O sentido da audição do cavalo

Assim como a visão, a audição do cavalo é bem adaptada para a percepção de qualquer ruído diferente, o que é indispensável para a sobrevivência da espécie. A forma afunilada das orelhas ajuda a dirigir as ondas sonoras em direção aos tímpanos. O movimento de cada orelha é controlado por dezesseis músculos que podem operar independentemente. Deste modo, o cavalo é capaz de voltar sua atenção a dois focos de sons diferentes.

As orelhas do cavalo podem girar até 180°, o que o capacita a perceber de longe a aproximação de alguém. Além do mais, o torna sensível a modificações climáticas (alterações de ventos ou proximidade de chuva), imperceptíveis ao homem.

Quando as orelhas estão voltadas para trás, o canal auditivo fica totalmente obstruído, impedindo uma perfeita audição. Por este motivo, quando o cavalo ouve um ruído muito alto, tende a voltar as orelhas para trás para abafar o som desagradável. Essa sensibilidade auditiva pode trazer sofrimento ao cavalo. Barulho excessivo o deixa sobressaltado e agitado.

Ele também é dotado de um sistema de alerta coordenado entre a visão e a audição. Podemos observar isto na simultaneidade entre os movimentos da cabeça e dos olhos quando o cavalo ouve um ruído inesperado. Os cavalos reconhecem ruídos familiares e também os comandos dados pelo homem e parecem melhores do que o ser humano para distinguir entre sons de intensidade aproximada.

Narinas

Devem ser grandes e elásticas com capacidade de inspiração de oxigênio, pois caso ao contrário, se não houver a necessária admissão de oxigênio, não terá bom desempenho funcional.

Boca

Você pode não acreditar, mas a boca do cavalo é uma das regiões mais importantes. A Justaposição labial é quando o cavalo apresenta o lábio inferior flácido é denominado de Belfo. Além de prejudicar a estética, sendo defeito penalizante no julgamento de conformação, também é um defeito funcional, pois prejudica a apreensão de alimentos.

Na simetria da arcada dentária, quando o cavalo apresenta assimetria na dentição é denominado de prognata. O prognatismo pode ser inferior ou superior. O primeiro caso ocorre com mais frequência. A exemplo do defeito belfo, a apreensão de alimentos também é prejudicada.

Pontos de controle da embocadura. O bridão exerce ação principal nas comissuras labiais e ação secundária nas barras e língua. Calosidades nas comissuras labiais são áreas de cicatrizes de ferimentos, devido à violência nos comandos de rédeas, podendo prejudicar a sensibilidade e gerando o que se chama vulgarmente de ‘cavalo de queixo duro’. Quando não se permite o descanso para a condução de um tratamento adequado, pode ser desenvolvida uma calosidade na região do ferimento. Da mesma forma, barras também devem ser examinadas quanto à presença de sinais de cicatrizes e textura. A língua deve ser examinada quanto à textura. Quanto mais áspera, menor tende a ser a sensibilidade.

Além destes pontos de controle anteriormente mencionados, o freio também exerce ação sobre o palato, que deve ser avaliado quanto à largura e a altura. Em uma boca de palato estreito não deve ser usado freio com a curvatura do bocal larga. Se o palato é baixo, a curvatura do bocal não deve ser alta.

A escolha de uma embocadura não pode ser generalizada, mas sim individualizada. Os casos frequentes de cavalos reagindo negativamente à embocadura são explicados pela escolha incorreta da embocadura. O fato é que a escolha correta da embocadura e dos momentos certos para as transições é um dos segredos da formação de um cavalo vencedor. Esta escolha depende da avaliação da boca.

Pontas de dente – A ação da embocadura nos pontos de controle poderá ser direta ou indiretamente prejudicada pelas pontas de dente. Pelo menos duas vezes por ano os dentes devem ser nivelados e suas bordas arredondadas. Há um desgaste natural provocado pela mastigação de alimentos, fazendo com que a mesa dentária perca o nivelamento. Os efeitos indiretos sobre a ação da embocadura devem-se aos ferimentos nas bochechas e na língua. O efeito direto é causado pelo chamado DENTE DE LOBO, um dente alto e pontudo, de origem vestigial na espécie equina. Quando tocado pela embocadura o animal sente desconforto.

Focinho

O focinho deve ser pequeno e suave em harmonia com a boca e as narinas.

Olhos

Proeminentes, ativos, brilhosos, bem implantados nas laterais da cabeça perfazendo uma linha na região da fronte (Testa).

O cavalo deve ter uma boa visão associada a uma boa audição, sendo em conjunto um excelente mecanismo de defesa, segurança e não raro, inteligência, uma vez que há um certo discernimento do que está a sua volta. O cavalo enxerga quase em 360 graus em torno de si mesmo. Isso ocorre porque seus olhos estão sobre os lados de sua cabeça. É por isso que ele é capaz de avistar objetos ou movimentos atrás dele, mesmo sem se voltar, porém, há pontos cegos que o impedem de enxergar.

Visão Monocular – o cavalo enxerga mais com um olho, mas possui também a visão Binocular, que é restrita na frente da cabeça e ao longo do seu eixo longitudinal (Coluna Vertebral). Como saber se ele está olhando com um olho ou os dois? Como ele procura sempre centrar com ambos os olhos sobre algo, ele curva ambas as orelhas sempre para frente. Quando olha de forma monocular (um olho) ele curva a cabeça. Exemplo: Para enxergar mais longe ele levanta a cabeça e para enxergar mais de perto ou a meia distância a cabeça se posicionará mais baixa.

O cavalo tem um modo especial de percepção de profundidade. Como nem sempre ele pode usar os dois olhos (Visão Binocular), um olho calcula a distância relativa do objeto, comparando relativamente com o seu próprio tamanho aproximado. Se o cavalo não pode ver o que está se passando, ele oporá resistência. Nunca tente aproximar-se furtivamente por traz de um cavalo, certamente ele reagirá e acidentes acontecem.

Pescoço

Uma das primeiras expressões quando se observa o cavalo é o conjunto cabeça e pescoço, isto porque mostram nitidamente a expressão racial, tais como perfil, posição e funcionalidade.

O pescoço deve ser de comprimento médio, inserido ao tronco em ângulo de 45⁰. É uma estrutura complexa na qual mais de uma centena de músculos apoiam sete grandes vertebras.

O bordo inferior do pescoço é comparativamente reto e deve destacar-se nitidamente do tronco, assegurando flexibilidade. O bordo superior é reto quando o cavalo está com a cabeça na posição normal. O pescoço deve ser proporcional ao corpo do cavalo para um perfeito equilíbrio entre a cabeça e o tronco.

O pescoço invertido, defeito grave, pode ser percebido mais facilmente no momento em que o animal flexiona sua cabeça para traz, pois nesse momento, ao invés de baixá-la, o animal de pescoço invertido tende a erguê-la em direção ao cavaleiro montado, fazendo uma flexão inversa no pescoço em forma de meia lua do peito para a entrada da cabeça.

É um defeito genético muito importante, pois sua incidência entre filhos de um animal com esse defeito costuma ser bastante grande. No quesito funcionalidade, um animal com pescoço invertido jamais será um bom animal para esporte, pois sempre que se fizerem necessários os comandos de embocadura ele projetará a cabeça para traz.

Musculatura

A musculatura deve ser bem pronunciada, tanto vista de lado, como de cima. Da cernelha ao lombo deve ser curto e bem musculado. Não pode ser selado especialmente em animais de esporte. Isso permite mudanças rápidas de direção e grande resistência ao peso do cavaleiro e arreamentos. É aceitável um declive gradual de 50 a 80⁰ da garupa a base da cernelha. O vértice da cernelha e a junção do lombo com a garupa devem estar aproximadamente no mesmo nível.

A cernelha deve ser bem definida de altura e espessura média. O dorso deve ser bem musculado ao lado das vertebras e, visto de perfil, com discreta inclinação para frente.

O lombo deve ser curto, com musculatura acentuadamente forte.

Peito

Profundo e amplo. O peito visto de perfil deve ultrapassar nitidamente a linha dos antebraços, estreitando-se porem, no ponto superior da curvatura, de forma a diferenciar-se nitidamente do pescoço. Visto de frente, a interaxila tem forma de V invertido devido a desenvolvida musculatura dos braços e antebraços.

Tórax

O tórax deve ser amplo, com costelas largas, próximas, inclinadas e elástico. O cilhadouro deve ser bem mais baixo que o codilho.

Por Roger Clark – Médico Veterinário
Juiz e Inspetor Zootécnico ABQM e ABC PAINT | Consultor em Comportamento e Bem-Estar Animal
Fotos: arquivo pessoal

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