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NBQM, 23 anos de fomento ao esporte equestre

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É uma referência no Brasil, em ideias, inovação e incentivo aos Três Tambores, Seis Balizas, Cinco Tambores e Maneabilidade

O Núcleo Bauruense do Cavalo Quarto de Milha foi fundado em 1996 e é um dos mais antigos registrado na Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Quarto de Milha. Criado por Marcos Roberto de Freitas com intuito de incentivar e dar igualdade de competição aos jovens e amadores em uma época em que as competições começaram a ter um nível mais alto. Todas realizadas no Recinto Mello Moraes e na Sociedade Hípica de Bauru.

“Naquela época tinha a APCT, Associação Paulista do Cavalo de Trabalho, que era o Ruy Abado e Robson Belé que tocavam, e as provas eram de um nível muito alto. Os melhores cavaleiros do Brasil naquela época competiam, como Miguel Dias, Beto Abdalla. O meu filho Daniel estava começando com 13 anos. Ele competia, mas não tinha chances de ganhar nada, só participava. Então, tive a ideia de montar um núcleo com todas as categorias e dar oportunidade para os amadores e jovens”, conta Marcos Freitas.

Assim, ele reuniu alguns pais e criadores e fundaram o NBQM, com R$ 100 cada um. A partir daí ele tomou força e hoje é referência. O Núcleo promovia provas de Três Tambores, Seis Balizas e Cinco Tambores e seguia o lema para qual ele foi criado, com nível mais igualado, mais categorias, inscrições baratas.

“A essência do NBQM era exatamente ajudar fomentar os amadores e os jovens. Claro que tinha as abertas, mas ele foi fundado com esse objetivo. E tomou uma proporção de tal forma que a APCT, Associação que era forte no meio, acabou sendo extinta, tornando o Núcleo mais evidente”, relata Freitas, que foi o primeiro presidente do Núcleo. Em 1998, Emílio Fanton, do Haras Fanton, que participava ativamente junto a ABQM, foi eleito presidente do NBQM.

Era das Mulheres

No ano 2000 começou a Era das Mulheres no NBQM. E por 11 anos elas, exclusivamente, tiveram à frente da entidade. A primeira presidente mulher foi Juliana Almeida. Nessa época, estava tendo muitos desentendimentos entre os competidores, porque o cronômetro ainda era na mão. Marcos Freitas e Emilio Fanton tiveram então a ideia de que tinha que ser uma diretoria de mulheres para tentar ajustar tudo.

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Primeira diretoria feminina: Juliana Nascimento (de rosa), Helena Herweg (sentada da esquerda) e Nilda Fanton e Lilza Mobaid

E em 2002/2004, Helena Madeira Herweg assumiu o Núcleo. Algumas coisas começaram a ser mudadas, com olhar mais detalhado. “E essa era mudou completamente a cara do Núcleo, porque mulher é mais detalhista, gosta de acrescentar coisas e florear, inventar, criar categoria. Nessa época houve um crescimento no NBQM, porque as pessoas haviam se afastado, e nós acolhemos todo mundo. A gente ligava para todo mundo, ‘oh vem na nossa prova’, competidores, donos de Haras, convidava pessoalmente. Não existia divulgação, a gente começou com a divulgação e essas mudanças o Núcleo foi crescendo”, relembra Helena.

De acordo com ela, houve um crescimento estrondoso, de 300 inscrições que dava no início a 1200 inscrições por etapa depois das mudanças. E o modelo de gestão delas virou referência. Um fato curioso é que nos Núcleos do Brasil não tinham mulheres à frente, o NBQM foi o pioneiro com esse formato, incentivando as mulheres a se envolverem nesse meio.

E elas inovaram, criaram muitas coisas novas para o esporte, entre elas uma importante que leva ao lema do início de tudo, o incentivo às crianças, com a categoria Mirim e Kids. “O Núcleo Bauruense tem a função de iniciar os competidores nas competições. Ele tinha todo o esquema de uma prova grande em uma prova pequena. E o principal, todo mundo era mãe, então pensávamos em estimular as crianças. Essa história do Mirim, de dar cenoura para elas darem para o cavalo, sacolinha com brinquedo, bicicleta de premiação para os campeões, troféu e medalhas para todos os participantes, não tinha em lugar nenhum”, ressalta Helena.

Para ela, foi uma experiência única estar à frente do Núcleo. “Eu adorei, eu não tinha experiência, eu fui pegando experiência com a Juliana fazendo as coisas, ela saiu no finalzinho porque arrumou um trabalho, tive que assumir e enfiar as caras. E o pior é que a diretoria era feminina, mas tudo em volta era homem. E mandar neles era complicado né, então aprendi bastante, mas foi difícil essa parte”, conta.

Na gestão seguinte quem assumiu foi Mônica Fasano. Todas trabalhavam juntas e a diretoria NBQM foi se moldando no jeito feminino e fortalecendo a participação dos jovens, amadores e das crianças. De 2007/2009, Paola de Conti Daré Braga assumiu a presidência do Núcleo. Ela entrou no meio do cavalo através do filho, na escolinha da Verena Ferraz. E o universo a encantou tanto, que acabou fazendo parte direta no NBQM, ficando no total de seis anos na diretoria.

“Foi um período muito alegre do Núcleo. Muito trabalhoso também, pois não tínhamos a estrutura tecnológica de hoje. Fazíamos as inscrições digitando uma por uma nas planilhas. Sempre tive ótima sintonia com as presidentes e vice–presidentes. Éramos na maioria mulheres, e como tal, os mínimos detalhes importavam muito. Preocupávamo-nos com segurança, qualidade da estrutura toda. Mas, principalmente, com as raízes do NBQM, que era atrair novos e jovens competidores nas modalidades”.

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Segunda diretoria feminina: Helena, Sandra Oliveira, Claudia Aguiar, Cecília Reis, Verena Ferraz e Nilda Fanton

Para isso, ela lembra que faziam provas temáticas, “como carnaval, dia dos pais, das mães, copa do mundo, páscoa, halloween, e também faziam festas de confraternização. Além de premiações especiais para os mirins e iniciantes. Muitos pais, avós, namorados, amigos dos competidores entravam nas brincadeiras e acabavam voltando na outra etapa como competidores. Eu, particularmente tinha um carinho especial pela categoria Mirim”, conta Paola.

Ela reforça que o papel do Núcleo era atrair novos competidores, independente de que animal montassem. Era uma forma de fomentar o esporte e, consequentemente, o Quarto de Milha, pois é o mais versátil. “Apesar do nome ser Núcleo do ‘Quarto de Milha’, entendíamos que era preciso chamar competidores novos a cada prova. E esses competidores, muitas vezes, vinham de escolinhas onde os cavalos não tinham raça”

Alguns atritos com a ABQM por conta disso envolvem a época. “A ABQM vinculava uma irrisória ajuda financeira com o fechamento do campeonato só para raça. Nossa estratégia era uma forma de atrair o novo competidor que, invariavelmente, acabaria comprando e competindo com um Quarto de Milha mais a frente. Uma pena eles não entenderem isso até hoje”.

Outro fato frisado por Paola sobre a época de sua gestão foi a criação da modalidade oficial de Seis Baliza Feminino. “O fomento da modalidade Seis Balizas sempre foi uma preocupação nossa. Infelizmente, uma modalidade que foi deixada e esquecida por muitos organizadores de provas”.

Encerrando o ciclo contínuo de mulheres à frente do NBQM, Camila Shayeb Dosso ficou de 2009 a 2011 e muitas outras novidades foram inseridas ao Núcleo. “Assumi o Núcleo logo depois da Paola. Tinha a Lilian como vice e foi quando ocorreu a primeira revolução dasnprovas, onde começou o SGP Sistema. A Marli passou a ideia para gente e achamos perfeita, porque a gente fazia tudo na mão. A primeira prova com SGP foi feita na mão e no sistema, pois não sabíamos se daria certo. E deu! Até hoje usamos ele e se tornou uma potência”, conta Camila.

A outra revolução dessa gestão foi o antidopping nas provas oficializadas da ABQM, pois só tinha nos eventos oficiais e no Jockey. “A gente iniciou o antidopping nas provas, a primeira de um Núcleo, fora a ABQM. E fomos evoluindo, tivemos coragem de fazer essa mudança e deu tudo certo”, frisa Camila.

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Caiu, Sandra e Camila

O Núcleo conta com uma pessoa muito importante em sua atuação, de contato com todo mundo, de carisma, que é a Sandra Carvalho. E foi a Camila Shayeb que a trouxe para esse universo, o qual abraçou e há 12 anos participa de tudo. “A Sandra começou o Núcleo na minha gestão e ali ensinamos tudo para ela, que abraçou essa causa e está lá até hoje. Sabe como ninguém como ele funciona. Ela foi uma das revoluções também. E o gratificante disso tudo quando estava lá era fazer as provas, ver as crianças competindo, os iniciantes começando ali, porque foi onde eu comecei”, lembra.

Sandra Carvalho, também conhecida como ‘Bom Bom’, conta como foi entrar nesse meio e a satisfação em ser parte dessa grande família. “Parece que foi ontem, posso ainda sentir o frio na barriga, a procura por uma oportunidade de trabalho e a frase Núcleo Bauruense do Cavalo Quarto de Milha, associação, provas, cavalos Que negócio é esse? Foi assim, que vim para o NBQM, receosa, amedrontada e ao mesmo tempo fascinada com tanta coisa nova que me aparecia pela frente, foi paixão a primeira vista!”

Emocionada ela relata quão o NBQM, é importante em sua vida, já que a associação abriu portas e hoje ela participa de outros eventos dentro e fora do estado de São Paulo. “O NBQM foi um divisor de águas na minha vida e ser parte dele me faz ser melhor a cada dia. Me abre portas e me proporciona trabalhos incríveis.  E aqui  são incontáveis emoções, onde em cada gestão uma descoberta, um desafio e um jeito novo de fazer o mesmo trabalho, depois uma saudade e uma eterna amizade. E sem contar essa sinergia da equipe de trabalho, profissionais que somam a cada evento, dando o melhor de si para abrilhantar nossa festa.  O que não é fácil fica divertido, ou seja, gratificante sempre”.

O NBQM é um Núcleo de credibilidade, conceituado e tem como sua marca receber bem as pessoas e inovar a cada diretoria e se adequar a cada período. “Hoje, depois de 23 anos, muita coisa mudou. Ele é bem conceituado, é o maior núcleo regional em atividade, sempre foi muito bem visto pela ABQM. Mas, infelizmente, não temos o teto, a pista coberta. Estamos passando por um processo de adaptação e ele deve passar por um processo de restruturação novamente para se adequar as novas realidades de prova, que de cinco anos pra cá mudou muito”, pontua Camila.

De 2011 a 2013, Marcos Freitas voltou a assumir o Núcleo, depois de 15 anos mantendo todo o legado que já estava sendo feito e sempre com o lema dele que o Núcleo era para as crianças, jovens e amadores, sem deixar é claro, os profissionais de lado. Depois, de 2013 até 2018, novas gestões dominadas pelas mulheres. De 2013/2016, Carolina Marins (Cauí), e de 2016/2018, Martha Herweg (Petit).

“Quando assumi o NBQM foi por necessidade do próprio Núcleo. Não pretendia assumir a posição de presidente, mas pelo forte vínculo com os animais e as pessoas, não poderíamos deixar de prestigiar. Pouco tempo após me apaixonei tanto por este campeonato que não queria mais sair”, conta Cauí.

Em sua passagem pelo NBQM, Cauí criou o Circuito Velocidade, prova de um dia com inscrições baratas e uma boa premiação, alavancando a participação dos competidores regionais. Ela era uma diretora muito presente e declara que muitas coisas marcaram neste convívio intenso e lembra com carinho de pessoas.

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Festas temática da gestão de Paola Barga

“As provas do VS são impressionantes e toda estrutura e pessoas muito comprometidas para a realização deste grande evento. Apesar de não ter uma pista coberta, a estrutura do recinto de Bauru é muito boa e acolhedora, assim como toda a estrutura da cidade de Bauru. Os funcionários do NBQM e Recinto são pessoas especiais que, além de tudo, têm muito carinho por receber bem o público”.

Ela também teve a companhia da Sandra, encarregada de tudo no Núcleo. “Ela faz toda diferença na organização e planejamento dos campeonatos realizados, sendo reconhecida em todos os outros campeonatos realizados por outras entidades. Apesar de um campeonato de médio porte, sempre pudemos contar com a família Quartista fiel ao NBQM. O ambiente familiar e ao mesmo tempo provas bem organizadas e competitivas garantem o sucesso do NBQM”.

Martha Herweg era a próxima na linha sucessora do Núcleo que participava ativamente das provas, mas não tinha o conhecimento dessa parte burocrática. Para ela, foi grande desafio, pois logo que assumiu, ficou sem treinador e teve que começar a montar seus animais, ficando com seu tempo ainda mais reduzido.

“Acabei aceitando assumir o Núcleo, foi no finalzinho de 2016, quando a Cauí foi para os Estados Unidos. Cheguei para Sandra e conversei que não tinha tempo, então ia fazia reuniões curtíssimas, perguntava o que tinha para fazer, o que precisava aprovar. O Juliano Calil era o vice e me ajudava bastante, a Camila também estava na diretoria, porque eu não sabia fazer nada em questão a pagamentos, mas a Sandra faz meio que tudo automático hoje em dia, aí eu gerenciava mais os detalhes”, lembra Petit.

Mesmo com sua pouca experiência, ela com suas ideias e por ser competidora, conseguiu fomentar mais as categorias dos jovens, amadores. “Trabalhei bastante em calcular as inscrições, eu tenho tabelas de todas as etapas, pequena e grande. Calculava quanto dava cada categoria e quanto que eu podia aumentar a premiação, porque o Núcleo tinha ficado uma prova muito cara, com pouca premiação. A nossa região é de criadores e está morrendo o amador, o feminino e jovem, só tinha aberta”.

“E eu falei, ‘vou tentar fazer isso, favorecer o máximo o amador e o jovem’, então pensei em baratear essa parte e tentar equilibrar. A ideia era que dessa forma, também teríamos novos participantes”. A gestão anterior havia criado o Circuito de Velocidade e Petit deu sequência ao formato. “Essas provas menores entre as etapas pagavam as despesas do Núcleo. No fim. conseguimos torná-las uma prova barata nas inscrições, baias e com uma boa premiação, movimentando mais a região”.

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Vista aérea da pista

Atual Diretoria

O Núcleo Bauruense do Cavalo Quarto de Milha entra agora numa nova fase de sua gestão, com uma diretoria completamente nova. O presidente é Carlos Eduardo de Oliveira. E ela tem como objetivo fazer o NBQM voltar a brilhar no topo das referências de provas no Brasil.

“Para gente da nova diretoria está sendo um desafio muito grande, uma responsabilidade maior ainda, porque sabemos da importância que o Núcleo tem para o esporte. E não só na região, no estado, no Brasil. Assumimos com muita disposição, com muita vontade de fazer o Núcleo ainda mais forte, continuar o bom trabalho das diretorias anteriores, tentar inovar, dar uma modernizada para acompanhar o ritmo de provas aí do Brasil inteiro”, expõe Hebert, diretor NBQM.

Segundo a nova diretoria, um dos objetivos deles é melhorar a qualidade da pista. “A nossa ideia conseguir parcerias para tentar fazer a cobertura dessa pista. Já estamos trabalhando forte em relação a isso, com a ajuda do Vaguinho Simionato, que é uma referência no esporte e tem os contatos. Queremos que Bauru acompanhe toda a evolução do esporte. E acreditamos que o próximo passo é esse. Sabemos que não é fácil, que outros já se movimentaram para conseguir, mas estamos dispostos a fazer que aconteça”, reforça Hebert.

Bauru faz parte de toda a história e evolução dos Três Tambores e Seis Balizas no Brasil, e o NBQM contribuiu e contribui muito para esse desenvolvimento dos esportes. “Todos sabem da importância de Bauru para a modalidade, para o Quarto de Milha. É aqui que estão os principais criadores, os melhores cavaleiros do Brasil, os animais mais premiados. E nós queremos contribuir ainda mais para essa história”, finaliza o diretor.

Por Verônica Formigoni
ESPECIAL Bauru – Revista Tambor & Baliza – Edição 83
Fotos: Cedidas

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