Fundado na década de 90, o Haras contribui para a evolução do esporte nesse período e ainda agrega com sua genética
O Haras Santo Antônio completa esse ano 23 anos de criação com a certeza de que continua no caminho certo. Um criatório genuinamente brasileiro, de propriedade da família Freitas, de Marcos Roberto. Como criador na ABQM, está entre os Top 10 do Brasil, ocupa a sétima colocação com 5.522,00 pontos (dados de setembro de 2019). Mas por trás desses resultados há uma história de amor e dedicação a criação, aos cavalos e ao esporte.
Marcos Roberto de Freitas começou no cavalo em 1993, pelo interesse do filho Daniel Salvatore Freitas, que queria montar. “Eu comprei meu sítio em dezembro de 1993 e nosso primeiro cavalo foi um Mangalarga. E eles brincavam na Hípica, fazíamos Cinco Tambores. A partir de 1994, Daniel começou a se interessar mais. E no recinto tinha um treinador chamado Luís Carlos Moreira, que é filho do seu Dito, e ele tinha alguns animais na escolinha”, conta.
Como Marcos não tinha muito conhecimento sobre raças conheceu o Carlos Marçano, que tinha seu criatório, onde é hoje o Haras D. Claudina, e ele o ensinou muito. “O Marçano quem ajudou a escrever o livro de regras da ABQM, ele faleceu logo que montei o haras. Tinha três éguas que foram levadas para Érico Braga. Vi ali uma boa oportunidade de adquirir bons animais para começar minha criação, então fui falar com o Érico”.
O criador lembra que na propriedade tinha gado, que ele trocou por éguas, que eram do cunhado de Marçano. “Ele fez as contas e aceitou”, recorda Freitas. As éguas eram: Duquesa KRB, Jamaica e a mãe do Castanho Red, Baby Girl Deckgo.
Ele pensou bem, pois queria para fazer bons cruzamentos. Então decidiu que seria com Shady Leo. “Liguei para o Paulo, era um comerciante, criador excepcional e perguntei quanto custava a cobertura. Naquela época era em dólares e ele me disse custava mil dólares. comprei três coberturas. Nasceram três animais, um não gostei, o da Jamaica; da Duquesa foi muito boa e nasceu a Fofinha San, filha da Baby Girl Deckgo, irmã própria do Castanho Red, que foi uma das melhores reprodutoras do FNSL”.
Fofinha San foi o primeiro animal de criação do haras e chegou a ser apresentada por Daniel. O conjunto foi reservado campeão Potro do Futuro nos Três Tambores e nas Seis Balizas. Mas Marcos queria mais e comprou mais duas coberturas de Shady Leo. Nasceu Castanho Red (foto).
“Foi muita sorte isso, até hoje não achei outro garanhão. Quando o vi, na hora achei que era diferente, tinha uns quatro ou cinco potros juntos. Eu não entendia muito, mas via que o pessoal que ia lá ver os potros, só queria ele. Aí pensei meu Deus do céu, preciso preservá-lo. Fiz três baias e dei orientação para que cuidássemos do Castanho Red, pois ele era diferente. Nem para o Daniel contei”.
Com um ano e meio, Castanho Red foi apresentado para o Daniel e o pessoal do Haras. “Ele entrou no meio das baias e Daniel falou ‘o que é isso?’! Falei ‘vai ser nosso futuro garanhão’”, recorda o criador. E Castanho Red se tornou um atleta de sucesso na sela do Daniel Freitas, formando um conjunto imbatível nas pistas. Ganhou Congresso, antes do Potro do Futuro, Campeonato Nacional na Baliza.
“Castanho Red têm 52 pontos na ABQM, Registro de Mérito Aberta e Amador e Superior em Três Tambores Amador. Vimos que ele era muito bom e colocamos na reprodução. Hoje ele tem mais de 430 filhos registrados, é o segundo melhor garanhão vivo de Três Tambores do Brasil”.
E Castanho Red se tornou o garanhão chefe do Haras Santo Antônio. Segundo o SGP Sistema, sua produção soma ganhos de R$ 1.965.920,65 em prêmios. Pela ABQM sua produção soma 7.098,25 pontos com 277 filhos pontuados e 15 deles com marcas na casa dos 16 segundos. “Possuímos um dos melhores garanhões do Brasil, filho de Shady Leo que com 20 anos de idade possui marcas incríveis, citadas acima. Castanho Red foi o melhor garanhão de Tambor de 2011 e 2012, mostrando a força da sua prole”, ressalta o criador.
O Haras Santo Antônio nunca investiu em genética de fora, mas segundo Marcos Freitas a sorte esteve ao seu lado por duas vezes. “Nunca comprei animal caro e os amigos ajudaram muito. Eu tinha Castanho Red e um dia o Érico Braga falou que ia ter um leilão de animais que não deram certo na Corrida e me indicou o Holland Wars”, lembra Marcos. “Naquela época paguei um valor bem acessível e em 12x. Tirei umas filhas do Holland e cruzei com Castanho e deram as melhores genéticas para mim, ou seja, tive sorte de novo!”.
Atletas do Haras
Daniel Salvatore de Freitas possui mais de 1.181 pontos, ficando entre os melhores treinadores e competidores da ABQM, sendo um dos melhores Jovem/Amador de todos os tempos. “Comecei com 11 anos de idade e competi durante17 anos . Montei muitos cavalos bons do Haras e de parceiros. Logo no começo Creek Leo, Festival de SI, Princess Leo, uma égua muito boa. Logo depois veio Holland Wars, Castanho Red e montei também os produtos desses dois garanhões , Star Red, Cabocla Red Leo, Zaino Wars e vários outros que tive a oportunidade”.
O atleta ainda lembra da trajetória que passou no haras. “Comecei com o Lu Moreira, que montou alguns cavalos nossos. Depois veio o Décio Talon, eu e ele competíamos, participei ativamente desses períodos. Com passar dos anos fui diminuindo e o Décio se despontou com a nossa tropa quando virou profissional. Foi uma fase muito feliz da minha vida de convivência com pessoas que me agregaram muito. E espero que meus filhos, quando tiveram um pouco maiores, me acompanhem nas provas, desse meio que é tão saudável”.
Ele competiu ativamente até 2002, quando teve que parar para se especializar em sua área profissional no Rio de Janeiro. Hoje, Daniel participa esporadicamente das provas devido a vida corrida de trabalho, mas sempre que pode está em cima de um cavalo. Nesse período, Décio Gaspar Talon entrou para fazer parte da família do Haras Santo Antônio.
Marcos, o pai, quando viu que o filho precisava reduzir a participação nos eventos, conversou com Vagner Simionato que precisava arrumar alguém para tocar os cavalos. “Conversando com o Vaguinho, contei que ia parar ou precisava arrumar um tocador, Ele apontou o Decinho, que era ainda da classe jovem. Depois de falar com Daniel, fechei com ele”, expõe.
E assim, Decinho ficou trabalhando por sete anos no Santo Antonio e ganhava tudo, o inicio de sua carreira profissional foi ali. “No primeiro Congresso ele me vendeu 300 mil de cavalo e começou a ganhar tudo. Chegou a ganhar no mesmo dia Potro do Futuro Aberta e Amador com Mister Red Wars, essa época ele ainda não ganhava salário”, fala Marcos.
Thiago Freitas Marques, neto de Marcos, deu sequência à geração de competidores da família. A princípio não queria, mas após voltar do Campeonato Nacional com o avô e o tio, resolveu que ia começar a competir. “Ele começou a montar e pegou gosto. Hoje é tricampeão Potro do Futuro Jovem ABQM de Tambor, na sela dos filhos de Castanho Red – 2015 com BilaRed, 2017 com Rainbow Dash Red e 2018 com Miss Baby Red”, ponta Freitas.
Atualmente, o treinador do Haras Santo Antônio é Danyllo Laurindo, que conquistou seu primeiro 16 montando a potra Rainbow Dash Red e segue com bons resultados em pista. Marcos Freitas faz uma avaliação desses 23 anos e lembra-se de quando comprou o sítio e fez um pedido a Deus. “Pedi uma coisa para Deus, que ele me desse saúde e me propiciasse condições de manter aquilo”. Antigamente, os investimentos pesados no Quarto de Milha eram na Corrida, mas com a evolução das genéticas, criadores dos Três Tambores começaram a investir muito, trazendo animais importados.
“E isso pesa para nós os pequenos que nem eu. Nunca importei um cavalo, nem fiz grandes investimentos. Não porque não quis, mas porque não tinha condições financeiras. Sou um professor universitário, que tive a sorte de fazer um garanhão que paga as contas do haras até hoje, por isso que continuo. Tudo que ganho invisto no haras e não é fácil. Mas, graças a nossa genética, a gente consegue se manter no mercado, sem investir em genética de fora”, afirma o criador.
Para finalizar, Marcos Freitas fala que de todos esses anos o melhor de tudo foram as amizades que ganhou. “Os amigos que fizemos e estão ao nosso lado em todos os momentos. E caminho que meu filho tomou se tornando um cirurgião de renome, muitas posturas vieram do cavalo. Aprendeu a competir e hoje o mundo é completamente competitivo. Aprendeu a discernir o certo do errado, a trabalhar duro. Porque os cavalos exigiam muito e deu um norte na vida dele.” Para ver mais conteúdo como esse clique aqui.
Por Verônica Formigoni
ESPECIAL Bauru – Revista Tambor & Baliza – Ed. 83
Fotos: arquivo pessoal