Desafios de se organizar a prova de Três Tambores em rodeios

Convidamos três dirigentes de campeonatos ativos, e de sucesso, nos dias de hoje, para falar do assunto

Será que basta somente conhecer um pouco da modalidade para encarar o desafio de organizar uma prova ou um campeonato? Os Três Tambores é um esporte que chama muito a atenção do público e para que a prova esteja bonita de ver precisa estar bem organizada. Isso é, definitivamente, uma verdade. Já que a falta desse preparo pode transparecer no andamento da competição e estragar o espetáculo.

Motivadas pelo desejo de modificar a forma como as comissões de festa viam os Três Tambores, competidoras se uniram para formatar campeonatos de sucesso. Para Amanda Gelly, de Querência do Norte/PR, do Campeonato Nacional de Rodeio, um dos principais desafios é depender de fatores externos e de pessoas de fora para organizar uma prova de Três Tambores em rodeio. Fatores esses como equipe de som, locutor/DJ, trator/rastelo, horários, ambulância. “Às vezes, queremos que tudo ocorra perfeitamente, porém podemos nos deparar com algum problema que foge à nossa alçada no momento. Tudo está interligado”.

Para ajudar a minimizar um pouco as situações adversas, Amanda acredita que ter uma equipe é essencial. Ela lançou o CNR no começo de 2018, com a finalidade de elevar o nível da competição, com provas mais profissionais, padronizadas, dando reconhecimento que o competidor e o rodeio realmente necessitam. “Para alcançar esse objetivo, é preciso ter uma equipe, o que muitas vezes não é fácil, mas é muito importante”, conta ela.

Três Tambores em rodeios
Diretoria CNR

Aos 25 anos, com dez na modalidade e dois anos atuando nos rodeios, Amanda reforça que não só a equipe precisa saber o que fazer como tem de estar em sintonia. “A pessoa que for trabalhar tem que gostar muito. Na maioria das vezes, dormimos em barraca ou trailer, longe de casa por dias, sempre na estrada. No CNR, não temos provas todos os finais de semana, mas Graças a Deus, conseguimos essa equipe. Somos muito unidos e sabemos o que cada um tem que fazer para que a prova ocorra perfeitamente”.

O CNR é um circuito de Três Tambores realizado em rodeios do Estado do Paraná. Amanda começou na modalidade correndo provas oficiais. Quando ela começou no rodeio, sentia que faltava um algo a mais para que os Três Tambores se equiparassem com as provas oficiais. “Sabia das condições diferentes de um rodeio, mesmo assim sentia essa vontade de fazer algo, ir além. Eu sou competidora e entendo bem o que outras competidoras anseiam”. E foi essa inquietude que a levou gerenciar o campeonato.

“Fui convidada a fazer minha primeira prova em rodeios em uma cidade vizinha da minha, chamada Santa Cruz do Monte Castelo/PR. Naquele ano, fizemos mais três ou quatro, todas em rodeio. O pessoal gostou tanto, que um amigo me incentivou, dando uma moto ‘zero’ para a premiação caso eu decidisse formatar um campeonato para continuar no ano seguinte. Esse foi, sem dúvida, um dos maiores incentivos para que eu criasse CNR”.

Três Tambores em rodeios
Equipe do CNR (da esquerda para direita: Ricardo (equipe do reparo); Saimon (equipe do reparo); Fábio (tratorista); Luan (equipe do reparo); Bruno (secretário); Amanda Gelly; Juliano Sfalcini (diretor e preparador da pista); Juraci (diretor e juiz do CNR)

Batalha número um: conseguir negociar as etapas com as comissões das festas. “Aqui no Paraná a organização das provas é feita pela própria comissão da festa. Na maioria das vezes, eles não tinham a menor ideia do que era necessário para que a prova acontecesse. Isso é algo que desanima a competidora e a família. Por exemplo, chegar no rodeio e não ser bem recepcionado, não ter as condições mínimas de pista, de camping, entre outras coisas. São fatores que prejudicam muito animal e competidora. Para muitas meninas, é hobbie e uma atividade que envolve toda a família. Estou contanto a realidade do Paraná, mas sei que tem muitas festas no Brasil conscientes das necessidades”.

Para fechar uma etapa, o rodeio contrata aquele campeonato, se comprometendo a fornecer todas as condições estipuladas, bem como a premiação. “Um dos problemas que enfrentamos é esse. As comissões organizadoras, algumas delas, acham que a prova de Três Tambores fica cara demais quando se fecha com algum campeonato, ou que dá muito trabalho. No meu ver, apresentar uma prova de Três Tambores bem organizada só abrilhanta a festa e levanta o público, é uma emoção atrás da outra”.

Sem deixar de lado todos os quesitos que devem ser providenciados pela comissão para que tudo ocorra nos padrões, o CNR busca simplificar a negociação. “Nós ficamos com toda a responsabilidade pela prova, cuidando de todos os detalhes inerentes a ela. Contando, claro, com suporte da festa, que sempre nos ajuda com uma coisa ou outra para que tudo saia de forma tranquila”, reforça Amanda.

Três Tambores em rodeios
CNR

No meio de sua segunda temporada, o CNR tem planos de crescimento. “Uma ideia é expandirmos além da fronteira do Paraná e alcançar outros Estados. Com a graça de Deus, o campeonato tem uma visão diferente. Gostamos de mostrar as provas para o maior número de pessoas, transmitindo pela nossa página no Facebook. Assim, apresentamos para um número maior de pessoas o que é os Três Tambores, a emoção e a adrenalina que as competidoras vivem a cada passada. Nosso retorno está sendo positivo e esperamos também cada vez mais adeptos”, finaliza Amanda.

Lá em 2003, um grupo de competidoras lançou a Associação Nacional dos Três Tambores. São 16 anos batalhando pelo crescimento dos Três Tambores dento dos rodeios. Pioneiras nesse formato, as meninas da ANTT abriram muitas portas ao longo dos anos. A atual presidente, Silvana Bertato, de São Pedro/SP, estava lá. Ela entrou nesse meio em meado dos anos 80, quando casou e mudou para o interior. Inspirada pelo marido, já praticante de algumas modalidades, passou a montar e também a incentivar os filhos.

“Viajávamos todos os finais de semana para as provas. Voltávamos para casa com lama até os olhos, sorrisos, arranhões, alguns troféus e muitas histórias para contar. Sem saudosismo, mas a época era de pura inocência. As premiações eram irrisórias e os cavalos de 18 segundos eram a grande atração. Confesso que o esporte realmente nos ajudou muito a educar os filhos, criar laços fortes de amizades, que ainda hoje cultivamos. Vivemos essa atividade até hoje em nossa família, com o Rancho São Francisco de Assis, liderado pelo meu filho. Onde os meus quatro netos já começaram a ter contato com o esporte”, recorda.

Três Tambores em rodeios
Começo da ANTT

Quando a Federação Nacional do Rodeio Completo foi extinta, as competidoras de Três Tambores da época, em especial Paula Camargo e Priscila Aguiar, sentiram a necessidade de se unir, organizar e regulamentar a modalidade. A ideia, segundo Silvana, era valorizar não só o esporte equestre, mas tudo o que poderia envolver o universo dos Três Tambores. “Fui convidada pelas meninas a participar da primeira diretoria da ANTT. De lá para cá, muitas lutas e grandes conquistas”.

Silvana ocupa hoje seu quarto mandato como presidente, contando com a ajuda e total suporte das demais meninas da diretoria. Uma após a outra. “Sem todo este apoio, seria impossível gerir o cargo, por motivos profissionais e familiares que me impedem de acompanhar as etapas pessoalmente”.

A presidente recorda dos primeiros anos de ANTT, que foram fundamentais para estabelecerem as bases fortes da Associação. “Com poucos recursos financeiros e contando com a ajuda das ‘mães-secretárias’ Renata Aguiar e Ana Luiza Julio (in memoriam), a ANTT foi crescendo, unindo as competidoras e recebendo o reconhecimento e respeito das melhores festas do país. Quebramos muitos preconceitos e paradigmas, como a inclusão da presença feminina nos rodeios”.

Três Tambores em rodeios
As meninas colocam a ‘mão na massa’

Ela toca em um ponto delicado, que faz parte da lista de desafios. A aparente falta de visibilidade da modalidade e, consequentemente, a ausência de parceiros comerciais dispostos a investir no segmento. “Essa sempre foi uma das nossas lutas, mostrar a modalidade como uma força dentro das festas e conquistar patrocínio. A importância da padronização das pistas e instalações adequadas e seguras, dentre outras também estão nessa lista. A cada dia, com muito trabalho, perseverança, ausência de vaidades pessoais, foco e determinação, continuamos a superar obstáculos, fazendo da ANTT um verdadeiro ‘case’ de sucesso como um dos mais importantes campeonatos da modalidade no rodeio brasileiro”.

Com a credibilidade conquistada ao longo de todo esse tempo, Silvana comemorara um desafio positivo. “Hoje, nosso maior desafio é atender ao grande número de convites que recebemos das festas de todo país para realizarmos as etapas do CNTT. Sempre pensando em fazer o melhor pelas competidoras, vamos adequamos nosso calendário e nossa equipe a cada temporada”.

Para o futuro, ela conta que continuarão a trabalhar para alcançar a excelência do CNTT. “Primamos pelo profissionalismo com tecnologia, divulgando ainda mais a marca registrada ANTT no Brasil e no exterior, através de produtos e serviços. Tenho a convicção de que as futuras gerações dos Três Tambores darão continuidade a essa verdadeira saga. Sinto-me muito agradecida, privilegiada e honrada por, de alguma maneira, ter contribuído para o crescimento de nossa ‘Família ANTT’!”, finaliza Silvana.

Três Tambores em rodeios
Diretoria ANTT na final de 2018

Inspirada no formato da modalidade em rodeios, Débora Castilho lançou o Barrel Racing Brasil, com o intuito de fomentar o esporte nas regiões de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Começou em Minas, em 2012, por iniciativa de Débora e Marina Nogueira, competidoras. Com o tempo, abriu etapas no Rio e no Espírito Santo também. Inicialmente, as provas eram feitas em rodeios, mas ganhou espaço nas mais importantes provas da região. Hoje realiza um campeonato com bastante inovação.

Débora conta que começou na modalidade aos 15 anos de idade, junto com uma amiga da escola. Só aos 19 passou a treinar para valer e ir às competições. “Sempre gostei mais de rodeio do que prova, a adrenalina é muito maior. De perto, via a precariedade das provas em rodeios da nossa região, por isso resolvi, junto com uma amiga, criar o circuito. A nossa ideia era apenas organizar os Três Tambores de uma forma mais bem preparada para que pudéssemos correr. Viabilizar uma prova segura para os animais e competidoras, com boa premiação”.

Três Tambores em rodeios
Abertura do BRB ‘estilo’ rodeio

E assim surgiu o BRB. Entre os maiores desafios desse começo, esteve o de buscar suporte e apoio financeiro das prefeituras. “Não é simples ter uma prova de Três Tambores, a pista tem que ser segura e firme, precisamos de espaço para os animais não somente aquecerem, mas alojar, local para acampamento, água, luz, banheiros. E o mais importante, dinheiro para premiação e pagar todos esses custos”.

Débora pontua que a região do BRB não tem o mesmo número de rodeios que tinha antigamente. Acabou se tornando um problema para que o campeonato tivesse continuidade. Portanto, já sem a parceria com a Mariana, ela levou todo o formato dos Três Tambores em rodeios para as grandes provas da modalidade. “Resolvemos colocar as regras de rodeio, com abertura, formato de classificatória, entre outros, nas maiores provas da região. E deu certo!! Por mais que o BRB hoje aconteça em provas, conseguimos proporcionar para as competidoras uma adrenalina bem parecida com a dos rodeios, exclusividade, abertura, narração diferente, e etc”.

Três Tambores em rodeios
Final do BRB 2018

Para que o BRB cresça cada vez mais, Débora tem como meta captar mais patrocínios. “Somente com apoio financeiro conseguiremos valorizar ainda mais as competidoras e incrementar a nossa grande final, que já é uma festa linda”, conclui.

Por Luciana Omena
Fotos: Cedidas

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